sábado, 25 de julho de 2015

ARTIGO: SALVE O 25 DE JULHO, SALVE AS MULHERES PRETAS

Nasce mais um 25 de julho, o Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. A data possibilita, sem dúvidas, mais uma dose de celebrações, análises sobre a realidade das mulheres negras e de outros segmentos historicamente colocados em condição de exclusão e invisibilidade.
É um reforço à luta e um pensar coletivo, pois como bem disse a antropóloga e eterna ativista Lélia Gonzalez, “estamos cansados de saber que nem na escola, nem nos livros onde mandam a gente estudar, não se fala da efetiva contribuição das classes populares, da mulher, do negro e do índio na nossa formação histórica e cultural”. Lélia faz uma justa menção a figuras centrais da nossa história que também participaram de forma determinante da construção do país, resistindo ao sistema escravocrata. A citação foi feita na obra “De Palmares às escolas de samba, tamos aí”, artigo publicado em 1982.
O dia de hoje, fazendo referência à atuação de Lélia e de tantas outras lideranças negras, deve servir para nos aproximarmos nas lutas e conquistas. Podemos dizer que se o nosso protagonismo demorou a ser reconhecido, a nossa caminhada, por sua vez, não retrocedeu. Contrariando a vontade da sociedade machista e racista, as mulheres alcançaram o direito à participação política, acesso à universidade, ao mercado de trabalho e das artes, dentre outros setores. Assim como o 25 de julho internacionalizou o feminismo negro contra a opressão de gênero e étnico-racial, também será inspiração para abertura de mais portas.
Nesta busca, no que tange às agendas governamentais e ampliação de direitos, podemos lembrar avanços relativamente recentes como a instituição de organismos de promoção racial e de gênero, planos e instrumentos legais, políticas de cotas e outras ações afirmativas, atenção à saúde da população negra, iniciativas para comunidades tradicionais, todas elas devendo focar, indiscutivelmente, um olhar especial para as mulheres negras.
Na Bahia, além da criação das secretarias de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) e de Políticas para as Mulheres (SPM), conselhos e outras instâncias, destacamos que diversos esforços estão em curso, no sentido de expandir oportunidades para o segmento que é maioria populacional. O Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa é um exemplo, com capítulo dedicado exclusivamente às questões das mulheres negras, para o qual estamos construindo a regulamentação.
Com passos dados e desafios ainda colocados é possível levar algumas convicções. Não abrir mão das conquistas, perseverar nos caminhos da transformação social e trabalhar por mais políticas públicas. Com nossos cabelos crespos, trançados e blacks, seguimos pautadas nos ideais das mulheres pretas que nos antecederam: Maria Felipa, Carolina de Jesus, Dandara, Luiza Mahin, Laudelina Campos de Melo, além de Lélia Gonzalez já citada. Assim, pelo feminismo, pelas mulheres negras e pela resistência, salve o 25 de julho.
Vera Lúcia Barbosa
Titular da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia (Sepromi)
Email: vera.barbosa@sepromi.ba.gov.br
Artigo original publicado no jornal A Tarde desta sábado (25)

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